O professor Evaristo de Moraes Filho, grande jurista de Direito do Trabalho, socialista e sociólogo, era hipocondríaco e imortal da Academia Brasileira de Letras. Até quase seus cem anos de idade quando morreu.
Houve dias em que colocava terno e gravata. Deitava-se na cama. Dizia que ia morrer. Não conseguia.
Imaginar sintomas e sentir o que não tem, síndrome do pânico ou de ansiedade, não é incomum. Na história temos expressivos exemplos: Charles Darwin, Marcel Proust, Glenn Gould. No Brasil, um conhecido ex-banqueiro é o líder do grupo. Com mais de noventa anos.
Esta epidemia aumentará o número de hipocondríacos. Muitos terão o vírus, sem sintomas. Hipocondríacos têm sintomas sem terem o vírus.
Deve-se levar a sério o hipocondríaco? Um ex-grande médico aqui do Rio, Dr. Kaplan, diante de hesitante hipocondríaco, não hesitou: “Deite-se. Vou lhe examinar todo. Hipocondríaco também morre”.
O importante é se dar conta de que o grande fracasso do hipocondríaco é ficar doente. Unam-se pois. Protejam-se. Não fracassem.
Texto publicado originalmente no blog de Ancelmo Góis, no Jornal O Globo, em 11 de abril de 2020.