Artigo publicado no Blog do Noblat, em 15.10.2015

Muitos imigrantes que hoje chegam em condições dramáticas à Europa , aceitando o risco da morte para viver, deixam tudo em seus países. Suas propriedades, cultura, famílias, profissões, afetos, nacionalidade.

Mas não deixam absolutamente tudo. Trazem suas memórias e muitos deles trazem também dois instrumentos de sobrevivência indispensáveis à nova vida: o celular e o cartão de crédito.

O que é fácil de entender, pois não são todos os imigrantes que fogem da pobreza. Alguns sim, mas muitos fogem das guerras, do desemprego e das crises climáticas. São classe média e trabalhadores.

Não trazem passaporte válido com visto. Suas carteiras de identidade nacionais pouco ajudam. Mas, sem cartão de crédito e celular, são desprovidos das novas carteiras de identidade globais: o acesso à comunicação e à moeda, no caso, ao crédito. Estas são novas commodities que não têm fronteiras.

A ideia de passaporte como documento nacional-global está, pois, mudando.

Não é novidade antiga o uso da moeda como instrumento de concessão de nacionalidades. Países como Portugal, por exemplo, com problemas de fluxo financeiro pelo déficit público, estabeleceu que quem comprasse imóvel ou fizesse depósitos em bancos em Portugal por longo prazo poderia ter a nacionalidade, o passaporte português.

Outros países tiveram e têm ainda iniciativas semelhantes, inclusive países do Reino Unido.

No passado, qualquer bacharel em direito sabe disto, havia dois critérios para ser nacional de um país. O ius soli, isto é, o cidadão era aquele que nasceu no solo do país. Ou o ius sanguinis, quem nasceu do mesmo sangue de seus país.

Hoje existem mais dois: o ius monetae e o ius communicationis.