Artigo publicado na Folha de S. Paulo em 08 de agosto de 2014 (Acesse aqui)

Pela lei, o Banco Central de Portugal é independente. Tem autonomia administrativa e financeira. Seu presidente, aprovado pelo Conselho de Ministros, tem mandato fixo de cinco anos. Igual ao que muitos pretendem para o Banco Central do Brasil. Mas a realidade é outra.

Para agir na crise do Grupo Espírito Santo,  o Banco Central português precisou de permissão das autoridades monetárias europeias. Teve que respeitar os limites de endividamento do governo estabelecidos pela troika (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia).

Teve, ainda, que pedir ao Conselho de Ministros, na noite de domingo, legislação especial para usar o Fundo de Resolução. O presidente da República Cavaco Silva precisou assinar legislação no segredo do domingo. Independência, pois, nem pensar.

O que ocorre agora em Portugal atualiza o debate sobre a independência de bancos centrais. O banco central é capaz de prevenir e evitar crises? De se informar e avaliar riscos espalhados por empresas financeiras e não financeiras? Quem é responsável quando isso não acontece?

A questão atual não é, pois, independência. É a responsabilidade do banco central.

Ninguém vem a falir em 24 horas. Desde 2013, parte do mercado desconfiava de má gestão, burla, falsificação, lavagem de dinheiro. Mesmo assim, a Comissão de Valores Mobiliários de lá (CMVM) autorizou aumento de capital de mais de € 1 bilhão.

Há três semanas, o imprudente governador do Banco Central declarou que o BES estava bem. Investidores e clientes acreditaram. Não estava. Perderam. Vão processar. Quem?

O culpado é a complexa aliança entre, de um lado, a “culpa in vigilando” do Banco Central e da CMVM, e bancos privados como Morgan Stanley, UBS, Nomura, Citigroup, que venderam papel podre para clientes. Provavelmente vão ser processados. De outro, a política empresarial temerária e eventualmente criminosa do Grupo Espírito Santo. Com mais de cem herdeiros em briga interna.

Até agora o BES e o Banco Central não parecem dominar a contabilidade do dano. Vive-se em um mundo de opacidade, diz a mídia local.

O brasileiro Banco Central dependente da época de Pedro Malan, por exemplo, parece ter sido mais eficiente do que o português Banco Central independente de Carlos Costa.