A Transparência Internacional divulgou semana passada o seu Índice de Percepção da Corrupção (2019). O Brasil não se sai bem. Estagnou nos últimos dois anos.

Generalizar, porém, é perigoso. Esta pesquisa mede a corrução no setor público, e não em toda a sociedade brasileira. A bem dizer, mede uma relação: a relação dos brasileiros com o setor público. Aí está o problema.

Os detalhes são fundamentais. O Barômetro da Corrupção (2019), também da Transparência Internacional, aponta que a percepção é de que 63% dos Congressistas são corruptos. Que 53% dos banqueiros são corruptos. Que 34% dos magistrados são corruptos, aumentando em relação a 2017 (21%).

Em compensação, somente 11% dos brasileiros envolveu a pequena propina em suas relações com o setor público, ou com os serviços públicos. Abaixo da média da América Latina.

Mais ainda. Embora não existam ainda números atualizados sobre o governo Bolsonaro, para 90% dos brasileiros a corrupção é muito grave. O que confirma a prioridade que o Executivo deve seguir: combater a corrupção. E alimenta o prestígio do Moro.

A pesquisa foi divulgada na mesma semana em que os bilionários de Davos se inauguravam. Pesquisa internacional então divulgada pela Edelman dizia:

O mundo está em crescente descrença com este capitalismo global. 56% acredita que o capitalismo global faz mais mal do que bem. Somente 31% acredita que os businesses conseguirão pagar salários decentes a cada um. O que para 82% é o dever dos businesses, isto é, dos negócios privados.

Uma correlação com os líderes do capitalismo, a corrupção e as promessas não cumpridas se insinua cada vez mais. Aqui e acolá.

Não espanta que, desde o ano passado, o The Financial Times alerta que Davos não é mais lugar para se comemorar o capitalismo. É para mudá-lo. G. Rachman diz que a Davos dos bilionários corre o risco de se tornar irrelevante. A crítica é unanime em toda a mídia e economistas.

A Transparência Internacional anunciou que em alguns países, como o Canadá, até então modelo ético, estão perdendo posições.

Não se pode tomar o todo, por parte. A corrupção global que afeta o capitalismo é a grande corrupção. Não adianta generalizar.

As principais recomendações da TI para um melhor futuro é controlar os lobbies: o acesso desigual dos grandes ao dinheiro, aos centros de decisão do estado, o controle dos crimes dos ricos, lavagem de dinheiro, fraudes fiscais dos que têm dinheiro.

Não são crimes característicos dos que não têm dinheiro.

As prisões são um imenso problema. Mas, neste caso, o imenso problema está fora das prisões.

O foco não é os servidores públicos de concursos feitos, de méritos aferidos, de responsabilizações controladas.

O foco é a relação da burocracia de cargos de confiança, de indicações políticas, patrimonialismos e corporativismos dos três poderes. Com os que gostam de capitalismo sem concorrência. Nepotismos reincidentes. Instituições de controle cooptadas. Paralisadas.

O Brasileiro não é corrupto.

Artigo publicado originalmente no JOTA, no dia 29 de janeiro de 2020. Acesse aqui.