Artigo publicado no Jornal O Globo, em 25.10.2017

Rosa Weber suspendeu o leilão da Constituição. Os esforços para recusar a denúncia do Ministério Público Federal e processar o presidente Michel Temer não são, como muitos pensam, apenas uma questão orçamentária. Liberar emendas de deputados, esquecer multas, conceder subsídios. Trata-se de algo mais.

Trata-se de leiloar a Constituição. Conceder direitos que valem mais do que recursos financeiros. Direitos contra os acordos internacionais, contra a dignidade da pessoa humana, direitos contra os cidadãos.

Rosa Weber ontem suspendeu esse leilão ao suspender a portaria que facilitava o trabalho escravo, a pedidos de empresas, de fazendeiros e da bancada ruralista, pelo que nos informam as notícias do Congresso.

Infelizmente, vivemos uma época em que a moeda política de maior valor é a imprevisibilidade da interpretação da Constituição.

Mais do que evitar o leilão de uma pretensa interpretação da Constituição, Rosa Weber deu um exemplo forte a ser seguido.

Uma vez perguntaram ao então ministro da Fazenda Pedro Malan como era ser ministro da Fazenda. E ele respondeu que o melhor ministro da Fazenda é aquele que o cidadão e as empresas não conhecem nem o nome.

Quando isso ocorre, é sinal de que tudo vai bem. Tem razão o ministro Malan, que sempre usou da discrição como estilo de poder. Essa discrição, esse silêncio, é também a marca de Rosa Weber.

Em outras palavras. Pode-se ter e exercer o poder, sem precisar de anúncios, entrevistas, falar fora dos autos. Palavras de ordem, slogans judiciais. Basta a força da serenidade e do bom senso ao interpretar a Constituição. Sem estardalhaços.

Quem assiste às sessões da TV Justiça percebe que a frase que Rosa Weber mais pronuncia é: “Eu gostaria de entender seu argumento”. Oque ademais mostra respeito aos seus pares interlocutores.

No final da liminar, a ministra pede que Advocacia-Geral da União, Ministério Público e ministro de Estado do Trabalho sejam ouvidos. E informa que a liminar depende de referendo do órgão colegiado.

O Brasil tem que ouvir o silêncio sério, comunicativo e poderoso da ministra Rosa Weber.

Aceitar ou recusar a denúncia não pode ser objeto de favores constitucionais.