Artigo publicado no Jornal O Globo, em 20.09.2016 (Acesse aqui)

Poder, pode. A Constituição só proibiu o nepotismo no Poder Executivo. Por exemplo, filho ou sobrinho de presidente, prefeito ou governador não pode se candidatar à vaga do pai ou tio. Não proibiu no Poder Legislativo. Nem o chamado nepotismo cruzado, em que um parente no Executivo auxilia outro no Legislativo. E vice-versa.

Aqui no Rio nós temos o deputado federal Jair Bolsonaro, que tem filho vereador, filho deputado estadual e filho deputado federal — este candidato à prefeitura. A família Picciani tem deputado federal, agora ministro, e deputados estaduais. Isto existe em quase todos os estados.

Só para registrar situação bem longe daqui. Em Patos, na Paraíba, a avó era prefeita até 15 dias atrás e foi deputada estadual por cinco mandatos. O avô paterno foi também prefeito. O avô materno foi deputado estadual cinco vezes e deputado federal duas. O neto é deputado federal. E o pai, que foi também prefeito de Patos por dois mandatos, é o novo candidato a prefeito.

Não se trata de julgar pessoas ou famílias. Trata-se apenas de indagar se esta prática é boa ou não para a democracia.

Os que são contra parentes na política argumentam que hoje não existe mais a clara separação entre Executivo e Legislativo. Deputados, vereadores e senadores interferem no orçamento público. Influenciam onde sanear, onde construir escolas e hospitais. Preenchem cargos de confiança. Arranjam empregos. Ou seja, criam uma fidelidade de benefícios governamentais paralelos com o eleitor que pretendem transmitir para seu parente.

Mais ainda. Os parentes já eleitos ocupam, em geral, cargos nos partidos políticos. Assim, tendem a priorizar a escolha intrapartidária de seus parentes como candidatos.

Podem dar preferência na distribuição dos recursos financeiros do Fundo Partidário. Ou simplesmente dar mais visibilidade a seu parente no horário partidário. Simples assim.

Isso é bom para a democracia?

Eleições livres quer dizer eleições em que cada candidato tem chances iguais aos outros. Não são beneficiados nem por empresas nem pelo poder público. Apoiar parente fere esse princípio? Muitos acreditam que sim.

A influência do parentesco não é problema só no Brasil. Vejam nos Estados Unidos. Se Hillary Clinton for eleita e, como na tradição, reeleita, teremos oito anos de Hillary e oito de Bill Clinton. Some quatro anos de George Bush e oito de George W. Bush. Total de 28 anos com duas famílias.

Não há como negar que os sistemas eleitorais podem criar dinastias eleitorais. Será esse o destino da democracia representativa? Não sei. Depende do eleitor.