Nunca antes ministro do Supremo teve tanto poder no Brasil. Vejam só. Ricardo Lewandowski tem o poder de seu voto no Supremo. Igual aos demais ministros. Acumula com o poder de ser presidente. Decide a pauta do Supremo. O que vai ou não votar. Comanda as sessões. Concede ou retira palavra de ministros. Diante de milhões de brasileiros.

Acumula também com o poder de seu voto como conselheiro do Conselho Nacional de Justiça. Igual aos demais conselheiros. Acumula ainda o poder de ser presidente do CNJ. Faz a pauta. Participa de punições ou não de juízes. Lidera reuniões. Influencia resoluções.

Acumula tudo por fim com a presidência do processo de impeachment da presidente da República. Influencia o andamento ou adiamento. Concede ou não a palavra aos congressistas. Conduzirá a votação final. Dilma Rousseff é presidente afastada. Michel Temer, presidente interino.

Hoje, Ricardo Lewandowski não é chefe de governo. Mas, queiram ou não, é o presidente do futuro da nação. Como determina a Constituição. Lewandowski tem tomado algumas decisões polêmicas. No Supremo e no CNJ. Mas dentro da lei. Polêmica é inevitável para quem decide e age.

Democracia não é afeita a unanimidades. Qualquer decisão ou gesto seu será objeto de profundo escrutínio e especulação. Nacional e internacional. Adia ou não o processo? Favorece ou não a parte? Qual será seu futuro? Seguirá ministro do Supremo?

Aposentar-se-á voluntariamente para depois ser nomeado para cargo de governo? Entrará na política? Ministros do Supremo devem cumprir mandatos. Não devem interrompê-los para ocupar cargos em governos que julgou. Ou para serem candidatos ao Poder Legislativo. Vantagem desigual.

O que fazer então com tanto poder? Octavio Paz, Prêmio Nobel de Literatura, dizia “Eu sou o que serei”. O que fazer amanhã, com tanto hoje? Hoje, ao aceitar presidir o processo de impeachment, Lewandowski o legitimou. Amanhã, a grandeza de sua independência e imparcialidade será decodificada por sua opção pessoal posterior.

Sabemos apenas que dificilmente abrirá mão da condução do impeachment para a nova presidente eleita do Supremo, ministra Cármen Lúcia.

*artigo publicado no Jornal O Globo, em 16.08.2016