Artigo publicado no Blog do Noblat, em 03.08.2016

Quem pensou que a campanha eleitoral “Dilma versus Aécio” era exemplo de mentiras, ofensas e anti-democracia, enganou-se.

“Crooked”, trapaceira, é Hillary segundo Trump. “Unhinged”, desequilibrado, é Trump segundo Hillary.

Trump recusa-se a mostrar sua declaração de imposto de renda. Hillary de declarar  quanto ganhou por palestra, almoço, ou silêncios com Wall Street.

A Suprema Corte americana permitiu que se comprasse tempo na televisão. Lá inexiste horário eleitoral gratuito.

As mídias sociais ganham força. Mas a TV ainda é primordial na formação do voto. Quem tem mais dinheiro, tem mais tempo de televisão. O que não decide se o candidato for muito ruim. Mas ajuda.

No Brasil, procura-se controlar o poder do dinheiro nas campanhas. O tempo de propaganda eleitoral é gratuito e   dividido por critérios pré-definidos na lei eleitoral.

Lá, nos Estados Unidos, as eleições são indiretas. Quem tem mais votos individuais pode perder a eleição. Foi o que aconteceu em 2000. Al Gore somou 50.999.897 votos contra os 50.456.002 de Bush. Ganhou Bush.

Ha décadas que prestigiosos cientistas políticos americanos, como Robert Dahl, alertam que este modelo é antidemocrático. Tem que mudar.

La, não há Justiça Eleitoral. Gore pediu a recontagem dos votos na Flórida por fraude. A Suprema Corte mandou interromper a recontagem. Não entrou no mérito se houve ou não fraude. Ganhou Bush.  Trump diz que vai haver fraude  agora.

Os temas da campanha são o protecionismo, o nacionalismo, o etnocentrismo, a violência racial, o terrorismo e o direito à tortura, a construção de muros entre México e Estados Unidos, a impunidade de Wall Street, a criação do INSS, o medo e combate aos estrangeiros. Até os franceses serão revistados nos aeroportos, segundo Trump.

Este modelo de eleições primárias resultou em escolha insatisfatória. 67% dos americanos dizem que não confiam em Hillary. 62% não confiam em Trump. Vão votar em quem não confiam. Algo está errado. Ou democracia é assim mesmo?

O chefe da campanha de Trump  foi lobista para os ditadores Seko, do Congo, e Marcos, das Filipinas. Prestou serviços para o presidente pro-Rússia da Ucrânia . Hillary usou rede privada para  e-mails oficiais. Errei sim, diz.

Dois personagens estrangeiros influenciam o voto do americano. Putin, que Trump elogia como líder. E Assange, que diz ter e-mails a revelar.

Tudo é impensável.

O mundo ocidental está perplexo com esta eleição fratricida e autofágica. Rússia e China exultam em silêncio. Inglaterra encolheu-se em si mesma. França se aterroriza. Alemanha com os milhões de turcos de que necessita e os milhares de refugiados que lhe entram.

Não se sabe quem ganha. Mas já se sabe. Este modelo de eleições não é um ideal global.

Mãos à obra, portanto. Este é o século de todos aperfeiçoarem seus próprios modelos de democracia. Cada um que se reinvente. Ou então, nada.