Artigo publicado no blog do Noblat, em 28.01.2016.

O que é um líder? Perguntaram outro dia a um grupo de pessoas que discutia o Brasil contemporâneo. Evidentemente, não houve consenso nas respostas. Mas uma chamou a atenção. Líder não é aquele que sabe mais. É apenas aquele que tem mais coragem.

Se assim o é, estaria explicado o protagonismo do deputado Eduardo Cunha. Num momento em que quase todas as lideranças políticas, inclusive as de oposição, estão embutidas, o deputado Eduardo Cunha exibe coragem pouco comum. Ousadia mesmo.

Mas liderar não é apenas ter coragem. Coragem para quê? Perguntaram, então.  É preciso a coragem da verdade e do futuro. Apontar os obstáculos, como superá-los e onde chegar. Neste ponto, a evidente coragem do deputado Cunha se encontra com um imenso vácuo.

Este vácuo vai muito além da política. Qual o educador, o economista, o político, o empresário, o líder de classe, o intelectual público que o Brasil contemporâneo hoje ouve, respeita e lhe empresta uma autoridade de líder nacional? Mesmo os que lhe são contra?

A crise é tão grave que levou Rosiska Darcy de Oliveira, da Academia Brasileira de Letras, a imaginar que talvez a liderança pessoal seja modelo do passado. Ultrapassado. Há que se procurar outros caminhos para se chegar ao futuro.

Na verdade, em países com sistemas partidários sólidos, a liderança vem tanto do partido como instituição, quanto do político ocupante do cargo maior.

Alguns cargos fazem o líder, é verdade. Mas o líder vai além do cargo: Papa Francisco e Angela Merkel, por exemplo.

Se aceitamos a ideia de que no Brasil contemporâneo líder não é apenas a pessoa, mas a instituição também, poderíamos concluir que nosso líder nacional não está no Congresso. Nem na oposição. Não está na Presidência. Nem nas organizações sindicais e empresariais. Ou mesmo na sociedade civil como o foi no passado. Há que se buscá-lo em outros lugares.

A liderança hoje é das instituições essenciais à justiça e do judiciário, com o Ministério Público Federal a frente. Paradoxalmente, neste caso, quanto mais impessoal, melhor e mais poderosa. A vaidade, sobretudo a midiática, é seu maior inimigo.