A Fundação Champalimaud reuniu em Portugal, três prêmios Nobel – Shirin Ebadi (Prêmio Nobel da Paz), Robert Horvitz (Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina) e Sydney Brenner (Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina) – Tim-Berners Lee, criador da World Wide Web, cientistas do calibre de Manuel Castells, António Damásio e muito mais.

Sob o comando de sua presidente Leonor Beleza e coordenada por Fernando Henrique Cardoso, com a ajuda do cientista brasileiro Silvio Meira. Encontraram-se, em torno de uma pergunta simples: como será o mundo daqui a cem anos?

O câncer já é uma doença curável. Mas não há cura ainda. O conhecimento necessário já esta disponível. O mapeamento do câncer  esta feito.

Aliás, como afirma importante oncologista do Hospital Sírio Libanês, todos, ou quase todos, terão câncer no futuro. Em uns o câncer não se desenvolverá. Nem sequer será revelado. Morre-se sem saber. Em outros, o câncer será diagnosticado, administrado como hoje ou curado como amanhã.  Morrerá de outra causa. Pouquíssimos morrerão de câncer.

O maior desafio serão as doenças da mente e não do corpo. Como alzheimer, depressão e outras. E as epidemias locais e globalizantes como já sentimos por aqui com a dengue, zika e chikungunya.

Para quem nasceu hoje, a idade média em países minimamente avançados ficará entre 105 e 120 anos nos próximos cinquenta anos. A vida deixará de ser problema da ciência. Será problema da economia.  Como o mundo vai sustentar tantos idosos ? Não é só o Brasil de Nelson Barbosa que tem este  desafio da previdência. Nenhum país sabe como enfrentar. E, no entanto, é preciso. China, Estados Unidos ou  social democracia europeia e nós.

Será possível determinar a aparência e o caráter das pessoas pela manipulação do DNA. Com isto, haverá também o risco, ou o benefício, da ciência controlar a rotina do próprio comportamento humano. Como de algum modo os remédios tarja preta já fazem.

Para Tim Berners-Lee o maior risco da web é ser apropriada por uma empresa ou um país. Ser instrumento de dominação e não de liberdade. Provavelmente, referiu-se, sem mencionar, às ameaças da Google e da China. Mostrou-se, porém, esperançoso que a humanidade tanto não permitisse . E elogiou  textualmente o Brasil com o Marco Civil da Internet.

Uma pessoa será um organismo informacional em uma esfera informacional, disse Turing. Em 2020, cada seis pessoas no mundo estarão diariamente conectadas a algum dispositivo de informação. Em 2030, cada 0,08 pessoa estará conectada. Ou seja, todos estarão conectados a mais de um tipo de dispositivo de informação. Aliás, no Brasil, o número de celulares já ultrapassou o de cidadãos.

Tudo conectado, ser inteligente significará ser capaz de entender o outro. Ser sábio significará ser capaz de entender a nós mesmos. Quase Sócrates.

A física compreendera melhor a questão do espaço e do tempo. Inclusive a origem do universo. Mas, a partir daí, não é mais com a ciência. É com a ética, os valores, o direito, o ser humano.

O que significará humanidade?  Cada vez haverá mais de uma maneira diferente de ser humano? Como, aliás, já se esboça no choque de culturas Leste e Oeste. Quais os valores que nos caracterizam? Quais os comportamentos que queremos regular? Incentivar ou proibir?

Neste ponto o pessimismo foi total, a começar por Manuel Castells. O sistema político no mundo todo está sem saída visível. O estado de direito estaria à beira de  colapso.

Por isto, um dos presentes disse em alto e bom som. “Não quero este futuro para mim”. Outros reconhecem, no entanto, que  uma melhor convivência entre pessoas diante do progresso da ciência ainda não foi pensada. Mas  é perfeitamente pensável. Melhor 2016.

Champalimaud na década de 50, o grande rico de Portugal. Há mais de dez anos atrás, nem precisou de exemplos de Gates ou Buffet. Fez um cheque de cerca de quinhentos milhões de dólares e criou fundação de excelência no combate ao câncer e à AIDS. Situada num belíssimo prédio do arquiteto Charles Correa, está aberto a qualquer um que por lá for. Imperdível.

* artigo publicado no jornal Correio Braziliense, em 09.01.2016