Artigo publicado no Jornal do Commercio, em 15.05.2015

Muito antes do mundo estar conectado pelas redes sociais, conectar-se já era seu estilo. Conectar-se em si e aos outros, espontaneamente, como se este fosse o destino de todos. Talvez por causa de sua origem meio índia. Ao contrário de nós, onde o individualismo é o fim e começo de tudo, a comunidade é o fim e o começo de toda aldeia indígena.

Por isto, vive entre Boa Viagem e Olinda, como se não vivesse em cidades, mas em aldeias.

Podem chamar Xirumba de Arlindo de Souza Amorim, seu nome, digamos, cristão. Mas ninguém o conhece assim. Provavelmente nem ele a si próprio. É profissionalmente fotógrafo. Era profissionalmente jornalista. Ambas profissões de conexões.

Na sua aldeia, e para sua aldeia, com a qual tem uma intimidade natural, tem a capacidade de fazer as conexões as mais inusitadas possíveis. Por exemplo.

Por que estão desparecendo as marias farinhas da Praia de Boa Viagem?

Simplesmente, acredita, por causa das máquinas, pesadas máquinas, que diariamente, ou pelo menos nos fins de semana, passam limpando as beiras da praia. E, com isto, destroem aqueles pequenos buracos para onde elas fogem quando as vemos.

É que aqueles buracos são suas casas. E conclui: “Já imaginou uma máquina passar todo dia como que esmagando sua casa? Ou você morre dentro dela. Ou se muda dali”.

Será mesmo assim? Talvez. Mas o que importa é o exemplo de como viver comunitariamente conectado com o cotidiano de sua aldeia, e seus problemas, a praia de Boa Viagem.

Há muito defende que protetor solar deveria ser considerado um remédio e não um cosmético, um produto de beleza. Se assim fosse poderia haver genérico de protetor solar. Como remédio que é. Não se pagaria os royalties da marca. A proteção seria mais barata, acessível a todos. Menos câncer de pele. Seria possível? Não sei. Mas esta é outra conexão Xirumba.

Seu livro de fotos da praia, somente da praia, “Deu Praia!”, patrocinado pelo governo do Estado de Pernambuco, com textos de Lírio Ferreira e Roger de Renor, é um hino de conexão e intimidade com Boa Viagem que todo cidadão deveria conhecer. Suas fotos do mar, das ondas se debruçando e chorando nos arrecifes são, paradoxalmente, um “movimento estático” que se revela sem se explicitar. E assim faz arte.

As fotos e desenhos que o mar faz nas areias são interpretação do ir e vir das marés, dignos das melhores gravuras da imensa Fayga Ostrower.

O exemplo é claro. Para estar conectado no mundo, antes há que se estar conectado com sua aldeia.