Artigo publicado no Blog do Noblat em 24.12.2014

O Papa falou para os cardeais, mas foi além deles. Fiéis, não fiéis e infiéis foram sua audiência. Falou para a opinião pública global. Como?

Primeiro, usou conceitos e palavras comuns, capazes de serem compreendidos por quase todos. Condenou as doenças que tomam conta hoje da Igreja: o terrorismo das fofocas, as caras fúnebres dos padres em vez da alegria, o Alzheimer espiritual, o exibicionismo mundano, as brigas pela glória e aparências, o carreirismo e oportunismo,   a divinização dos chefes, e por aí foi. Incisivo. De peito aberto.

Segundo, enquanto os líderes mundiais falam de economia, guerras, eleições, sistemas financeiros, dinheiro, o Papa é o único a falar de valores humanos.

Sua temática é o homem. Não é o preço dos comportamentos, mas seu valor.

Terceiro, evidencia que ele não mais depende das informações oficiais da Cúria e altas autoridades. Não se deixou aprisionar. Tem sistema próprio de captar informações diretamente da base da Igreja. Ultrapassa conservadores filtros políticos.

Quarto, tem clara e sofisticada estratégia de comunicação. Fala na data certa: nas vésperas do Natal. Fala para um conjunto de cardeais constrangidos, expostos na televisão, com transparência absoluta. Não precisamos ir muito longe. Vários deles, pelas atitudes, semblantes dourados e imponência, eram caricaturas.  Personificavam tudo o que o Papa condenava. A disputa interna sai dos corredores do Vaticano. Vai para o céu aberto global.

Finalmente, foi fala mobilizadora. Aos cardeais, padres e funcionários pede exame de consciência. Que deixem de lado suas capacidades intelectuais e se abram para a inspiração divina. Mudem.

Claramente convoca e pede ajuda à opinião pública mundial. Para salvar a Igreja, há que se mudar a Igreja.

Bom Natal.