O que é um líder? Perguntaram outro dia a um grupo de pessoas que discutia o Brasil
contemporâneo. Evidentemente, não houve consenso nas respostas. Mas uma chamou a
atenção. Líder não é aquele que sabe mais. É apenas aquele que tem mais coragem.

Se assim o é, estaria explicado o protagonismo do deputado Eduardo Cunha. Num
momento em que quase todas as lideranças políticas, inclusive as de oposição, estão
embutidas, o deputado Eduardo Cunha exibe coragem pouco comum. Ousadia meesmo.

Mas liderar não é apenas ter coragem. Coragem para quê? Perguntaram, então. É
preciso a coragem da verdade e do :futuro. Apontar os obstáculos, como superá-los e
onde chegar. Neste ponto, a evidente coragem do deputado Cunha se encontra com um
imenso vácuo.

Este vácuo vai muito além da política. Qual o educador, o economista, o político, o
empresário, o líder de classe, o intelectual público que o Brasil contemporâneo hoje
ouve, respeita e lhe empresta uma autoridade de líder nacional? Mesmo os que lhe são
contra?

A crise é tão grave que levou Rosiska Darcy de Oliveira, da Academia Brasileira de
Letras, a imaginar que talvez a liderança pessoal seja modelo do passado. Ultrapassado.
Há que se procurar outros caminhos para se chegar ao futuro.

Na verdade, em países com sistemas partidários sólidos, a liderança vem tanto do
partido como instituição, quanto do político ocupante do cargo maior.

Alguns cargos fazem o líder, é verdade. Mas o líder vai além do cargo: Papa Francisco e
Angela Merkel, por exemplo.

Se aceitamos a ideia de que no Brasil contemporâneo líder não é apenas a pessoa, mas a
instituição também, poderímnos concluir que nosso líder nacional não está no
Congresso. Nem na oposição. Não está na Presidência. Nem nas organizações sindicais
e empresariais. Ou mesmo na sociedade civil como o foi no passado. Há que se buscá-lo
em outros lugares.

A liderança hoje é das instituições essenciais à justiça e do judiciário, com o Ministério
Público Federal à frente. Paradoxalmente, neste caso, quanto mais impessoal, melhor e
mais poderosa. A vaidade, sobretudo a midiática, é seu maior inimigo.

Artigo publicado no blog do Noblat, em 28.01.2016.