Artigo publicado em 13.01.2017, no Blog do Noblat

Em seu discurso, Obama disse que as brown kids serão, no futuro, a maioria dos trabalhadores americanos.

Brown literalmente significa marrom. Serão marrons como nossa Alcione, ou como Gabriela de Jorge Amado?

Será que quis dizer que o fim do racismo viria mais pelo afeto, sexo, emoção, união, casamentos inter-raciais, do que pelo sistema de cotas? Mais pela mistura, que aponta para o futuro, do que pela classificação, que enfoca o presente?

Alguns americanos defensores da matriz de categorias raciais entendem que brown quer dizer um novo conjunto de raças separadas, de origem mais asiática, como indianos e paquistaneses, bengaleses, nepaleses.

Mas não foi esse o ponto de Obama. Ou alguém pensa que no futuro a maioria dos trabalhadores americanos será de asiáticos?

O que Obama está dizendo parece óbvio. Quanto menos racismo houver (e há cada vez menos), mais pessoas vão constituir suas famílias, ter maiores oportunidades, sem levarem em conta a raça. A maioria das brown kids será, então, inevitável.

Alguns anos atrás, importante intelectual francesa fez incisiva observação sobre o racismo no Brasil. Disse que aqui existia tanto racismo quanto nos Estados Unidos. Mas que, no Brasil, o destino do problema do racismo seria indissociável da nossa tendência à mestiçagem. E, nos Estados Unidos, seria o sistema de cotas.

Mas será que este contraste permanece? Os Estados Unidos tendem, agora, como o Brasil, a ser um país mestiço? Como defendia Jorge Amado.

Talvez Obama expresse mais um otimismo, do que uma realidade já atingida. Seja como for, contribui para mudar o sentido, inclusive, das importantes ações afirmativas que já existem.

Cotas não mais podem ser vistas apenas como meio para reforçar a raça de cada um. Mas de um estágio, uma etapa de combate ao racismo cujo fim não é uma sociedade multirracial. Mas uma sociedade ao mesmo tempo multi e transrracial.

Bem-vindos, pois, os americanos à nossa morenidade marrom, de Caetano, Gabriela e Alcione.