Artigo publicado no Jornal O Globo, em 20.10.2016 (Acesse aqui)
O ex-deputado Eduardo Cunha tem característica visível e palpável: a tensão. Este é seu ambiente natural. Na vitória ou na derrota. De líder partidário à presidente da Câmara, usou prerrogativas dos cargos para avançar interesses próprios e de seus aliados. Levou ao extremo a tensão entre público e privado. Tensionou o país. Quase à exaustão.
Adiou por meses o processo de sua cassação. Jogava com a pauta da Câmara. Incluía e retirava projetos de lei. Nomeava e desnomeava. Influenciava através da interpretação do regimento, sempre a seu favor. Dilma Rousseff não conseguiu pará-lo.
No Congresso Nacional, sua capacidade de articulação e obstrução foi notória. Cunha é, ele próprio, precedente de obstrução. A prisão do juiz Sérgio Moro expressa a cautela preventiva que a lei permite. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
A tensão jurídica — ser preso ou não — acabou. A prisão de Cunha não foge aos padrões das decisões jurídicas de Moro.
A tensão agora é outra. Foi parar no governo Temer. Não está em jogo a legalidade de Michel Temer. A substituição de Dilma Rousseff se deu por vias constitucionais. A não ser que o Supremo a reverta. Mas a legitimidade de seu governo está sob teste de urgências.
Com baixa aprovação nas pesquisas, sua legitimidade depende muito da capacidade de reduzir desemprego, controlar inflação, combater violência urbana, melhorar saúde e educação, vencer corporativismos e exemplificar a ética na política. Depende do voto do Congresso e da prática de si próprio.
A delação premiada é ainda nova tensão. Se vai haver ou não, ninguém sabe. Nem mesmo Cunha. Nem mesmo se será aceita. O que se sabe é que o fantasma da delação iniciou novo processo jurídico-político que pode ser obstáculo ou oportunidade para a votação das reformas legislativas.
O fato é que agora, de Curitiba, Cunha estará falando para o Congresso e para o governo Temer. E o Congresso e o governo estarão agindo pensando em Cunha. Quem vai piscar primeiro? Tensão solta no ar.
O juiz Moro estará observando.
Excelente texto
Quando o jogo político exclui o interesse público por tanto tempo se resvala para o decaimento da qualidade da democracia , assim como, por consequência,para a desinstitucionalizacao da nação …
São muitas as instâncias mas melindroso o terreno pantanoso onde os agentes do Estado e mesmo os cidadãos comuns tentam percorrer