Artigo publicado no Jornal O Globo, em 27.09.2016 (Acesse aqui)

Partidos e candidatos têm propostas, personalidades e alianças diferentes, por isso competem. Mas candidato diferente não assegura prefeito diferente.

O desencanto dos eleitores, jovens principalmente, é pelo que fazem de igual ao chegarem ao poder. O que fazem de igual nem sempre é visível.

Na campanha, todos prometem gestão municipal mais eficiente. Mas a eficiência da gestão não é ideal sem rosto.

Mede-se pela distância entre palavra e o gesto. Tem rosto bem definido: o rosto do servidor púbico. Que atende e resolve os problemas do eleitor. Sem burocratizá-los. Sem a rotina da pequena propina.

Mede-se pelo fiscal de centenas de licenças que a prefeitura concede, ou não, diariamente.

O eleitor é ilha cercada por fiscais da prefeitura por todos os lados. Sua casa, condomínio, restaurante, elevador, salão de beleza, farmácia, dependem de licenças. Inclusive sanitária e ambiental.

Quando alcança o poder, o novo prefeito percebe que ele passa. Os fiscais ficam. São estáveis. Aí começa um problema da gestão eficiente.

Alguns candidatos prometem mais concursos e requalificação dos funcionários. Outros prometem privatizar a administração pública. Pela privatização permanente, concessões a empresas privadas. Ou pela privatização temporária, terceirização de serviços.

Questões sobre o que fazer com funcionários ineficientes ou como avaliá-lo individualmente. Quais os setores e cargos precisam de estabilidade no emprego. E quais os que não precisam. Quem, afinal, fiscaliza os fiscais?

Essas questões não estavam no debate na televisão.

Quando chegam a prefeito, os candidatos fazem uma aliança para se sustentar no poder. Entre seu partido e seu grupo, com estímulos a empresas interessadas em privatizações e um funcionalismo insatisfeito e prostrado. Mas poderoso. O problema não é a estabilidade do funcionalismo. É a estabilidade da ineficiência.

Millôr Fernandes dizia que, quando uma ideologia ficava velhinha, velhinha, ela vinha morar no Brasil. A ideologia que ficou velhinha é essa aliança. Cuja versão conceitual nos foi revelada e legada por Raymundo Faoro em “Os donos do poder”.

Aliás, essa aliança estava vivíssima no debate dos candidatos na televisão. Por isso, nenhuma gestão municipal pode satisfazer a nós mesmos. Continuamos velhos sem podermos ficar jovens.