Artigo publicado no Blog do Noblat, em 19.03.2015

Estamos assistindo a uma crescente politização da necessidade de combate à corrupção. Assistimos agora na reação de muitos políticos de oposição diante da proposta enviada pela Presidente Dilma ao Congresso Nacional. Desqualificaram as propostas como antigas e requentadas.

Isto é grave. As pessoas não estão indo às ruas para favorecer este ou aquele partido. As ruas começaram a se encher contra temas transpartidários. Em 2013 por causa dos maus serviços públicos, como transportes. Agora e 2015 contra a corrupção.

Quando um partido politiza a necessidade de se combater a corrupção, no fundo ele está colocando a sua própria disputa de poder, o embate entre governo e oposição, como prioritário. Mais importante do que as necessidades das ruas. Usa as ruas como massa de manobra. Escuta mas não ouve. Dificilmente dará certo.

A pauta do povo é diferente da pauta da luta partidária.

As ruas não querem saber se as propostas de Dilma são antigas, requentadas ou inovadoras. As ruas querem saber se são necessárias ou não, e se serão eficientes ou não se bem implementadas. E em caso positivo, se os partidos se dispõem a votá-las. É sobre estes aspectos que o debate político deve se travar. E se travar logo.

É destes debates transpartidários que surgirão os novos líderes políticos da nação.

As propostas só ficam antigas e só parecem requentadas por uma razão simples. Elas já existem no Congresso Nacional e não foram votadas.

Teria um impacto político muito mais favorável para todos os partidos se imediatamente os líderes se ajustassem e ainda nesta semana selecionassem as propostas consensuais, e decidissem logo votá-las.

Propostas simples e óbvias, como a da adoção da ficha limpa para todos os três poderes, inclusive para os cargos de confiança. Se o Congresso já votou a necessidade de ficha limpa para si próprio, porque não expandí-la logo?

O poder Judiciário se beneficiou há anos atrás de um Pacto pela Justiça que uniu os três poderes e os principais partidos, que decidiram votar uma série de leis que já tramitavam no Congresso. A noção era simples: a reforma da justiça não pertencia a nenhum partido. A nenhum poder. Pertencia à nação.

O combate à corrupção não pertence a nenhum partido. Mas à nação. É hora de um pacto de resultados imediatos contra a corrupção. As ruas não querem discursos. Querem ação. Querem votação.