Artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo em 30.05.2014 (Acesse aqui)

A presidência de Joaquim Barbosa foi marcada por três questões principais: sua estratégia no mensalão, sua denúncia do racismo e sua maneira de conduzir o tribunal.

Raymundo Faoro dizia que estratégia não é apenas usar com eficiência os meios de que se dispõe para atingir os fins que se persegue. É também usar seus meios para impedir que os adversários atinjam fins opostos.

Sua estratégia jurídica no mensalão a todos espantou. Como toda boa estratégia, que nunca se anuncia, só ficou evidente depois. Manteve o julgamento no Supremo. Dividiu os acusados em grupos. Pareceu conhecer as 60 mil páginas melhor do que seus colegas. Capitalizou essa vantagem. Inovou nas doutrinas. Opôs a visão do todo, aos advogados de cada réu. Focou no colocar na prisão, dispensou as condenações sem pena. Evitou prescrições. Venceu.

Não foram poucos os que, antes de ele ser presidente, diziam que o ministro não gostava de trabalhar, que não estava preparado para o cargo e que não conhecia direito. Diriam hoje?

Denunciou como falta de honestidade intelectual os que acreditam que o Brasil não é racista. Se Lula o escolheu pelo regime de cotas, ele optou por não ser cota. Quando Lula o convidou para ir à África na comitiva presidencial, o que nunca antes fizera com nenhum presidente do Supremo, recusou o convite. Não se prestaria a marketing racial global.

Conduziu o Supremo com mão de ferro e obsessão casmurra. Na vida pública, é seco. Não se comunica por adjetivos, mas por atitudes.

Diálogo não houve com as associações de classe dos magistrados. Contrariou colegas. Muito agiu unilateralmente. Por detrás dessas atitudes estaria a convicção de que a cordialidade do brasileiro é uma tática de conciliação dos poderosos. Não é homem de diplomacia e negociações. Evidenciou.

Algumas vezes, o cargo é maior do que a personalidade de quem o ocupa. Outras, a personalidade é maior do que o cargo. E em Joaquim Barbosa? Saiu do Supremo e entrou para a história?